
No último final de semana de janeiro, o presidente americano Donald Trump anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre produtos mexicanos e canadenses (logo depois suspensas temporariamente) e de 10% sobre importações chinesas, justificando-as como forma de proteger empregos americanos e reduzir déficits comerciais. Entretanto, essa abordagem desconsidera os custos indiretos impostos aos consumidores e às indústrias que dependem desses insumos importados.
Histórico
As tarifas de importação têm sido historicamente utilizadas como instrumentos de política econômica, ora para a proteção de indústrias locais, ora como armas em conflitos comerciais e geopolíticos. Contudo, sob a ótica liberal clássica, as tarifas representam uma interferência nociva na ordem espontânea do mercado, prejudicando a divisão internacional do trabalho e a prosperidade global.
Desde o século XVIII, com Adam Smith e David Ricardo, o livre comércio tem sido visto como a melhor forma de aproveitar as vantagens comparativas de cada nação. Smith, em "A Riqueza das Nações", argumentava que a especialização e o comércio livre aumentam a eficiência produtiva, elevando o bem-estar geral. Ricardo, por sua vez, demonstrou como mesmo países menos produtivos podem se beneficiar do comércio ao se concentrarem na produção dos bens em que possuem menor desvantagem relativa. Restrições ao comércio, como tarifas e cotas, criariam distorções que favorecem grupos específicos à custa do consumidor e da sociedade em geral.
Ao longo da história, barreiras comerciais foram frequentemente utilizadas como ferramentas de guerra econômica. Exemplos de protecionismo podem ser encontrados já na Antiguidade. No Império Romano, certas províncias impunham tarifas alfandegárias sobre produtos importados para proteger suas economias locais e gerar receita para o Estado. Da mesma forma, o Califado Abássida, no Oriente Médio do século VIII, impôs taxas sobre mercadores estrangeiros, limitando a competição com produtores locais.
Durante o bloqueio continental imposto por Napoleão no início do século XIX ou as sanções comerciais durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, essas medidas buscaram enfraquecer economias rivais, evidenciando seu caráter prejudicial.
As tarifas
Os defensores das tarifas argumentam que, em certas circunstâncias, elas são necessárias para garantir a segurança nacional. Um exemplo frequentemente citado é o da indústria siderúrgica: se empresas de aço falirem devido à concorrência externa, um país pode se tornar vulnerável em tempos de conflito. Embora essa preocupação tenha mérito, a solução liberal sugere que a defesa nacional seja tratada como um caso específico, e não como justificativa para protecionismo generalizado.
De forma prática, as tarifas amplas acabam prejudicando diretamente os consumidores locais, ao encarecerem produtos importados, gerando inflação e reduzindo o poder de compra. Com preços mais altos, a demanda por bens e serviços tende a cair, afetando o crescimento econômico. Ademais, ao reduzir a concorrência externa, as indústrias domésticas perdem incentivos para inovar e melhorar sua eficiência, tornando-se menos competitivas no longo prazo. Isso gera um ciclo vicioso de baixa produtividade e preços elevados, impactando negativamente toda a economia. Já a imposição de tarifas específicas tende a beneficiar setores específicos à custa do bem-estar coletivo, sendo comumente resultado de lobby de grupos de interesse, em vez de ter objetivos geopolíticos.
Conclusões
Ainda nos primeiros dias de governo, temos mais dúvidas do que conclusões acerca das medidas do novo governo Trump: seriam apenas ameaças dentro de um jogo de negociação, um instrumento central de geopolítica ou uma forma (errada) de proteger os interesses econômicos americanos? Este será um tema central para os mercados e as economias locais em 2025, e vem sendo acompanhado muito de perto por toda a equipe da Armada.